sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Texas será pioneiro em biblioteca pública sem livros

Um condado do Texas abrirá nos próximos meses uma das primeiras bibliotecas públicas dos Estados Unidos completamente virtuais, um tipo de banco de informações onde as pessoas poderão acessar livros fazendo o download em seus próprios equipamentos ou pegando emprestado esses aparelhos eletrônicos.
O ambicioso projeto do condado de Bexar, que inclui a cidade de San Antonio, está sendo acompanho de perto por bibliotecários céticos. Alguns advertem que muitos títulos populares ainda não estão disponíveis em versões digitais para bibliotecas e são frequentemente mais caros do que suas versões em papel. Outros dizem que experiências semelhantes acabaram com as pessoas pressionando para preservar os livros impressos.
Nelson Wolff, principal político do condado de Bexar, é um bibliófilo que possui cerca de 1.000 primeiras edições de livros em sua coleção particular. Ele não possui um leitor eletrônico. Mas ele disse que concluiu — motivado em parte ao ler a biografia do cofundador da Apple, Steve Jobs — que a tecnologia está mudando rápido demais para se fazer investimentos em conhecimento impresso.
Ele sugeriu que Bexar eliminasse a presença dos livros. O condado não conta com um sistema integrado de bibliotecas, mas decidiu abrir uma instalação digital para atender seus moradores em áreas com cobertura precária de bibliotecas. "Eu sou o tipo de pessoa que gosta de ter o livro nas mãos", disse Wolff. "Mas também admito que sou meio um dinossauro."
O lugar, que será aberto nos próximos meses perto das instalações da prefeitura de San Antonio, terá uma seleção de cerca de 10.000 títulos e 150 leitores eletrônicos para os clientes consultarem, incluindo 50 para crianças. A biblioteca permitirá aos usuários acessarem os livros remotamente e contará com 25 laptops e 25 tablets para uso interno, assim como 50 computadores. Ela terá ainda sua própria cafeteria.
A equipe também vai ajudar os usuários com questões técnicas, mas não contará com assistentes de pesquisa. Autoridades do condado, que estimam um custo inicial de US$ 1,5 milhão para o projeto, acreditam que o custo total será mais baixo do que o de montar uma biblioteca tradicional e analisam abrir novas unidades.
O plano da biblioteca não gerou muitas críticas por parte da população, mas gerou tensão entre as autoridades de San Antonio. "Nós não estamos prontos para ir em direção das chamadas bibliotecas sem livros", diz Ramiro Salazar, diretor da biblioteca pública de San Antonio, que disse ter ficado surpreso ao ser informado dos planos do condado pela imprensa local. "Nossa experiência mostra que a demanda por livros impressos continua existindo e está na verdade crescendo."
Algumas faculdades começaram com as bibliotecas completamente digitais, incluindo a Universidade do Texas, em San Antonio, que foi uma das primeiras a se tornar 100% digital em 2010 com a sua Biblioteca Aplicada de Engenharia e Tecnologia.
Mais de 75% das bibliotecas públicas dos Estados Unidos oferecem alguns livros digitais e 39% emprestam leitores eletrônicos para seus usuários, de acordo com a Associação Americana de Bibliotecas. Mas a ideia de migrar completamente para os livros digitais tem avançado lentamente, em parte porque editores temerosos de perder vendas com as versões impressas estão cautelosos em disponibilizar para as bibliotecas novos títulos no formato digital e cobram mais delas por livros digitais que podem ser emprestados.
As bibliotecas do condado de Douglas, que atendem mais de 300.000 pessoas nos subúrbios de Denver, no Estado do Colorado, compilaram uma lista de títulos populares, seus preços e sua disponibilidade no formato digital para informar colegas bibliotecários e ao público sobre as dificuldades para migrar para os livros digitais. Um relatório do mês passado mostrou que metade dos 20 livros que encabeçam a lista da Amazon.com não é disponibilizada pelas editoras para as bibliotecas que emprestam os títulos para seus usuários.
Os livros disponíveis custam significativamente mais do que as edições físicas: o líder de vendas "50 Tons de Cinza" custa US$ 47,85 em dois grandes fornecedores de livros digitais para bibliotecas, a 3M e a OverDrive, em comparação aos US$ 9,57 cobrados pelo mesmo livro impresso na distribuidora Baker & Taylor, segundo o condado.
"Um dos maiores desafios que a maioria das livrarias enfrenta hoje, especialmente com livros digitais, é que os orçamentos foram mantidos ou reduzidos e a maioria dos usuários não entende porque nós não podemos disponibilizar esses títulos", disse Maureen Sullivan, presidente da Associação Americana de Livrarias.
A 3M e a OverDrive reconhecem que preço e disponibilidade permanecem sendo questões para as bibliotecas, mas dizem que a situação melhorou notoriamente nos últimos dois anos.
Wolff, do Condado de Bexar, disse que o esforço no Texas enfrenta desafios, como o custo de substituir os leitores eletrônicos danificados. Mas ele acredita que uma biblioteca que oferece apenas livros digitais precisará de menos espaço físico. "Nós nunca estivemos neste negócio antes", disse. "Mas acreditamos que esse é um jeito viável de trazer mais livros para as pessoas."
Fonte: The Wall Street Journal - 10/02/13

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