quarta-feira, 2 de julho de 2014

A Copa da virada - Por Levi Ceregato*

Por Levi Ceregato, empresário e bacharel em Direito e Administração, presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf)     


A população brasileira demonstra que não mistura mais futebol com política, contrariando teses anacrônicas, que floresceram sobretudo na Copa do Mundo de 1970, quando se vinculou a imagem da Seleção ao regime militar vigente. Cestas básicas e circo não subjugam mais consciências e votos. Parece que estamos diante de uma transformação histórica importante.

Por conta disso, a sociedade deixa claras as suas reivindicações e descontentamentos, sem abrir mão da paixão pelo futebol e da alegria por sediarmos uma Copa do Mundo. Assim, está transformando em um evento de sucesso algo que tinha tudo para dar errado. A recepção calorosa aos estrangeiros, a ausência de brigas e violência nos estádios e nas ruas, o tratamento cordial às delegações de outros países e o bom atendimento a todos no comércio e nos serviços estão fazendo um contraponto à imagem inicial negativa da competição, gerada pela falta de planejamento, obras atrasadas, alguns custos mal-explicados e promessas não cumpridas.

As redes sociais de todo o mundo têm ressaltado e elogiado esses virtudes de nossa gente. Com essa atitude positiva, o povo tem dado uma demonstração de maturidade política, deixando claro que a brasilidade, o patriotismo sempre estimulado pelas copas do mundo e o civismo devem prevalecer. Isso significa dar o melhor de cada um de nós para que o mundo nos veja com bons olhos e até reverta o olhar crítico e cético que permeou a organização da Copa do Mundo desde que a FIFA oficializou a sua realização no Brasil, há sete anos.

Em todo o País, parece haver uma disposição popular espontânea de que a tradição de bons anfitriões dos brasileiros contribua para reverter a imagem negativa inicial da Copa de 2014. 

O mais interessante, porém, é que o brasileiro está demonstrando seu espírito fraterno, solidário e pluralista, mas externando, de maneira firme, que não vê a competição como um fator político. Ganhar ou vencer dentro dos gramados não terá influência no voto.

Essa posição lúcida está muito clara nos estádios, nas ruas, nas redes sociais e nos depoimentos à mídia. Excetuando-se os palavrões dirigidos por algumas pessoas à presidente Dilma Rousseff no jogo de estreia do Brasil e atos de vandalismo nas ruas, atitudes não adequadas, é animador observar que o brasileiro deu mais um passo no sentido do aperfeiçoamento da democracia, reivindicando, protestando de modo cívico e externando seus anseios.

Foi-se o tempo em que ganhar ou perder uma copa do mundo tinha o poder de influenciar eleições. Enganam-se aqueles que ainda acreditam ser possível comprar a consciência das pessoas com camisetas, clientelismo, paternalismo, cestas básicas e circo. Os brasileiros querem mais, muito mais! Almejam um governo honesto, eficaz na gestão, sensível perante as prioridades da população e capaz de restabelecer um fluxo consistente de crescimento econômico, geração de empregos, investimento e credibilidade global.

A Copa do Mundo de 2014 evidencia que somos capazes de virar o jogo! Temos força e capacidade para fazer isso não só com relação à imagem internacional do Brasil, como no tocante aos gols contra que temos tomado na economia, na administração pública, na burocracia, na perda de competitividade da indústria, na queda de confiança dos investidores e nas incertezas que afligem o País.




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